Olhar para o ser humano é olhar
para uma obra prima, cuja construção ainda está em curso.
Porém, a sensação que às vezes
tenho é que o humano ao reconhecer-se humano, entra automaticamente num
processo autodestrutivo, para não dizer suicida, simplesmente para desafiar a
ele mesmo. Ou seja, sou ser humano, por isso, sou ser destrutivo – quero me
destruir em nome da aventura de poder da autodestruição como um lazer banal
(mesmo que por vezes inconsciente).
A emoção da autodestruição
disfarçada e maquiada em pós-modernidade e liberdade ameaça de extinção o senso
crítico do homem e da mulher. Claro que não podemos generalizar. Mas também,
não isentemos a muitos não, pois, o ser humano está sim, como diria meu avô, de
ladeira a baixo.
Às vezes umas atitudes da
sociedade, atitudes corriqueiras, revelam a verdadeira face do ser humano, ou
do que ele está se tornando.
A capacidade que tem o humano em
muitas vezes se alegrar com o mal, com a violência gritante que nos afeta. A
alienação e sensação da juventude vitimada por uma sociedade cansada de ser fiel,
digna, correta, revelam o nível de degradação que entrou o ser humano.
Estamos no momento do desmando,
ninguém pode, nem deve mandar em ninguém, a sociedade não suporta o fato de ter
que obedecer, ou ficar abaixo das ordens de alguém, por isso mesmo, as instituições,
taxadas de retrogradas e rígidas, já estão em crise, como por exemplo, a
religião e a família. A religião: vive seu momento de mercado uma vez que a
moda é preferir a mais light e mais adaptada ao sabor do cliente... Com a
família não é diferente, pois vive sua crise desde muito tempo – inversão dos
papeis, novo modo de ser família (novas famílias). Em ambas, obedecer não é a
palavra mais forte, não é mesmo. O que vale é arriscar, fazer o que vier na
telha - ser “insano” - não medir as conseqüências. A palavra obedecer fere os ouvidos de uma
sociedade fundamentada na falsa sensação do “Yes, we cam” ou “Si, se puede”.
Em nome da falsa sensação de
realização e de felicidade confundida com o prazer, parece-me que chegou a hora da verdadeira
“Tirania do prazer” (Jean-Claude Guillebaud) – todos estamos submissos ao
prazer, independente da fonte dele.
No âmbito sexual, passagem da
liberdade ou revolução sexual para a “algazarra sexual” ou o “vale tudo” sem o
mínimo respeito por nenhum parâmetro ético ou religioso. Vale inclusive, perder todo pudor, perder a
capacidade de desconfiar de quando se está sendo ridículo em nome do vulgar. O
sexo hoje dá as cartas, esta tirania que acontece hoje na vida das pessoas faz
agonizar no humano a dignidade e os valores, aqueles que nossos antepassados
levaram com sigo para o túmulo. Com isso, não faço apologia ao saudosismo, pelo
contrário, porém, também não incentivo a irresponsabilidade.
A força irredutível dos tiranos
de hoje, nada dissimulada, diga-se de passagem, escraviza e mata violentamente
a nossa geração que depois do deleite nas ondas do prazer oferecidas pelo lazer
despudorado e descomprometido com o outro, deixa em cada uma de suas vítimas um
gostinho de quero mais. Porém, são elas incapazes de perceber que na verdade é
esta a escravidão atual que cega, mata e rouba nossa alma de modo disfarçado e
alienado. A banalidade virou sinônimo de
prazer e libertinagem, beiramos o fim da sensatez e da lucidez, incrível que
não falta quem comemore este momento tão desejado e esperado por muitos.
Será que este caminho escolhido
pelo ser humano é um caminho sem volta? Alguns sinais dessa derrocada já
enxergamos: o fanatismo – a intolerância – o proselitismo religioso e secular
no âmbito das idéias e ideologias – a avidez por mais dinheiro e menos ética =
corrupção... a instrumentalização das ciências em nome da ganância e do sonho
dourado de “ser como Deus”, a promiscuidade invadindo nossa vida como um vento
fresco de final de tarde colorido por um belo por do sol. Será este pro do sol
a descida da humanidade à sua noite escura?
Pe. Laércio.sj
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