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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Viver pra mim é Cristo, morrer é lucro - Fl 1,21.


Quem está morto ou quem está vivo? A quem pertence este mundo?
Morrer pra mim é lucro (Fl 1,21)! São Paulo sabia o que dizia, ele percebeu o sentido verdadeiro da vida e por isso, “pediu” para morrer, pois sabia o que significava viver num mundo de mortos.
Hoje, qual seria a nossa afirmação? O que significa para nós viver e morrer?
Lembro do livro “Incidente em Antares” de Érico Veríssimo em que diante da morte de sete pessoas da mesma família e da impossibilidade de seu sepultamento, pois os coveiros estavam em greve, os mortos revivem e começam a atormentar os seus familiares e amigos, revelando a podridão em que viviam... como também da sociedade... o livro é incrível e forte... Sinto até o cheiro daqueles mortos pelas ruas de Campolargo... lembro ainda a imagem dos mortos no coreto da cidade... Homens e mulheres mortos caminhando apodrecendo indo ao encontro dos “vivos”...
Hoje no dia em que nos lembramos dos mortos, precisamos olhar para os vivos e a qualidade de vida que estão tendo. Que odor os vivos de hoje irradiam, o que fazem de suas vidas? Quais são as suas opções? Só assim, teremos condições de avaliar se de fato quem vemos e enxergamos nas ruas ou dentro de nossas casas estão mesmo vivos ou mortos-vivos. Imaginemos que nossos mortos fossem voltar hoje, o que precisaríamos mudar, antes que eles nos atormentassem? Calma, o livro é ficção.
Olhando as lágrimas e as dores daqueles que perderam seus entes queridos e que hoje elevam uma prece junto a eles, nos faz buscar dentro de nós o verdadeiro sentido de nossas vidas. Pois, um dia seremos nós quem iremos para junto de Deus. Morreremos, será que este morrer será para nós um lucro? Será que estamos dispostos a encarar a morte? Por qual motivo temos tanto medo de morrer? Será que viver nos traz de verdade um ganho maior que morrer?
Com a morte, mais que nunca nos colocamos em Deus. Mergulhamos no mistério que nos criou e que nos sustentou todos estes anos. Não devemos temer a morte, mas sim, a qualidade e a circunstância dela. Se temos medo da morte, é pelo fato de querermos bem à vida. Porém, não é isso que vemos não. A vida é algo banal, virou produto de troca, abuso, mercado, descartável... Homens e mulheres optam pela morte ainda em vida. Esta morte que falo é auto-destruição dos seus valores, dos costumes,  tudo isso em nome do prazer fácil, do gozar inconseqüentemente, do querer agora e do jeito que eu quero em detrimento do outro.
De fato, ter coragem de pedir a morte deste mundo é querer e acreditar que a verdadeira vida não está aqui e agora, não é algo que possamos tocar, reter, mas optar por ela, escolher.  A verdadeira vida nos é dada na cruz, na morte para este mundo, nela Jesus nos dá o exemplo maior quando nos mostra como deve ser o final da prepotência, da ganância, da lei pela lei... da exclusão que mata e humilha tantos homens e mulheres... Pois na cruz, Jesus nos revelou o sentido de morrer para este mundo e do fiar a vida apenas em Deus, com isso, ter a coragem de dizer como disse o Senhor, “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito”. Que possamos hoje, corajosamente fazer uma prece a Deus, e dizer a Ele o verdadeiro sentido de nossa opção que é morrer e viver nEle e ao “encontrarmos” os mortos andando pelo mundo, não tenhamos medo não, podem ser apenas os reflexos de nossas ações, aquelas que precisamos mudar, rever...
Só terá sentido chorar pelos que se foram, sentir saudade dos que partiram se tivermos a coragem de rever a nossa prática de vida, a nossa relação com este mundo morto-vivo.

Só terá sentido a lágrima se olharmos para a possibilidade de nossa morte eminente e assim, concluirmos que muito precisamos mudar e até mesmo morrer, para que de verdade tenhamos um encontro com a Vida e descubramos que viver pra cada um de nós é Cristo (Fl 1,21).

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