Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Religião, quando a celebração é mero ato de prazer.


Religião, quando a celebração é mero ato de prazer.

Estive pensando na famosa frase “a religião é o ópio do povo” (hoje dedicada a Marx, embora não seja a idéia totalmente dele) – e pude entender um pouco a razão desta expressão ao olhar a realidade da religião no mundo de hoje. Não é difícil escutar alguém repetir esta frase mesmo tão distante de seu criador e muitas vezes sem nem saber o que ele de fato queria dizer. Porém, sinto que querem comunicar a mesma coisa. Cabe a pergunta: será a religião um entorpecente para o nosso povo? Se antes de nossa geração, alguns pensadores já tinham razões para afirmar que a religião é ópio, imaginemos se eles estivessem entre nós no mundo de hoje.

Religião é experiência de adesão a um projeto e não uma curtição. Não é status, não deve ser moda, muito menos estar num lugar que afaga meu ego ou mesmo, me faz sentir que estou bem. Religião não é spar, religião não é instrumento de “guerra santa”, religião não deve ser moeda de troca no mercado do desrespeito e da loucura da busca pelo sentimentalismo.
Outro dia uma pessoa me chamou ao canto e perguntou: por qual motivo a missa é um ritual que sempre acontece a mesma coisa, e as respostas são iguais, tudo muito na hora marcada?
Tentei explicar, embora não tenha sido primeira vez que me perguntaram sobre isso.
Pr. Luterano
Antes do pentecostalismo no Brasil, uma pergunta dessa certamente seria difícil de escutar, uma vez que a experiência de evangelismo (protestantismo) no Brasil trouxe ainda a marca católica no jeito de celebrar e de viver o mistério da Fé e até nas vestes litúrgicas.  São vestes adotadas pela litúrgica católica, o mesmo serve para o ritual, para alguns sacramentos... Como também, as imagens de santos e de Cristo nas Igrejas Protestantes, nada disso diminui as Igrejas irmãs, pelo contrário, nos faz mais irmãos... Porém, é diferente o que acontece com a chegada da experiência neo-pentecostal e pentecostal. Hoje em dia, com as mídias mais populares e a presença de alguns seguimentos do pentecostalismo católico, como a RCC, o modo pentecostal protestante de celebração invadiu de vez a Igreja e afetou o modo de alguns padres celebrarem e conseqüentemente dos fiéis.
Hoje, os fiéis podem escolher a missa que quer “assistir”, inclusive se preferir, poderá ficar em casa, acomodadamente e sem esforço nenhum, olhando para a sua televisão.
Podemos chamar isso de um grande esforço de trazer as pessoas para Jesus, porém, a que preço?
Daí nasce a necessidade de muitos fiéis, buscarem na Igreja Católica um culto que fale a sua linguagem hoje, mesmo que beire a  linguagem do nada, ignorando a nossa história, sem perceber que estão caindo na armadilha dos tempos atuais, tudo rápido e com muito prazer. O mistério fica fora, o silêncio também. Querer comparar ou mudar nosso jeito de celebrar significa cair na tentação de olhar para o jardim do vizinho e não perceber a beleza do seu. Já temos tempo e experiência suficientes para saber que em nosso jardim temos a flor bela e cheirosa que dá sentido a nossa caminhada de fé. A Eucaristia nos alimenta e nos sustenta, ela quando cheia de silêncio e profundidade faz acontecer o encontro entre a assembléia reunida, Corpo de Cristo e Jesus a cabeça – o verdadeiro sacerdote.
Quando isso não acontece e buscamos as modas e os excessos litúrgicos, estamos simplesmente nos enganando, uma vez que, os fieis aparentam rezar e alguns ministros ordenados, aparentam presidir.  Por isso o ato de buscar “assistir” missas diferentes, em paróquias diferentes, comunidades diferentes, a partir do gosto e da comodidade que esta ou aquela paróquia me oferece, ou mesmo, o movimento x ou y, não é tão raro, pois querem uma celebração à própria medida. Transformar a Eucaristia num "descarrego”, ou num “desafio de Deus” não seria difícil, o difícil mesmo seria continuar celebrando a eucaristia, pois nessas alturas, já não teríamos mais uma celebração eucarística, mas sim, uma grande celebração ao nada e uma profanação do verdadeiro sentido do estar em comunidade para Eucaristia = Ação de Graças – Memorial do Senhor. Tirar o foco do que celebramos significa tirar a ação salvífica de Deus do centro e colocar a nós mesmos... Nossos problemas e nossas fragilidades. Não podemos perder a essência do sentido de estarmos juntos no entorno do altar e do ambão. Precisamos mais que nunca desfazer-nos dos apetrechos e exageros litúrgicos e buscarmos a essência daquilo que celebramos, com mais silêncio, mais mistério, mais dignidade, mais qualidade e mais mística e muito mais abnegação para deixar aparecer o que deve de fato aparecer  -  Jesus é o Centro.
Acredito também que não seja o momento de procurar culpados, mas sim, devemos saber observar as mudanças culturais. Vivemos num mundo que cada dia mais não sabe lidar com o simbólico, isso esvazia o sacramento, por isso, para muitos, tanto faz como tanto fez, o que vale é sentir emoção e prazer quando ora. Isso fica claro quando passamos em frente de algumas “igrejas” nas ruas das cidades, de modo especial na periferia,  basta algumas cadeiras de PVC, umas flores de plástico, um púlpito, um som e um microfone... Faltam os símbolos da fé, um lugar esvaziado de sentido e de mística - ali o interesse é profundamente egocêntrico, ou seja, o desempenho do pregador, do cantor, do tocador e de quem dança já se bastam. O altar não tem significado, o ambão é lugar de arrecadação, o espaço é vazio de significado, por fim, quem fala mesmo é o ser humano e sua própria natureza convidando sempre ao prazer. 
Lamentavelmente encontramos uma verdadeira turba que procura facilidades em nome da fé. Não percebem que esta atitude é fruto do momento que vivemos, não percebem que hoje a cultura pós-moderna globalizante se esforça em colocar tudo no mesmo patamar, tudo é igual, tem o mesmo valor e sabor... o que importa é ser feliz. A cultua atual está nos colocando uma armadilha, será ela mesma quem irá um dia nos puxar o tapete, uma vez que não teremos mais símbolos, diferenças, características, e viveremos mais que nunca a cultura do tanto faz. A diferença nos enriquece, não somos obrigados a sermos iguais, podemos viver os mesmos ideais, mas não podemos perder aquilo que é nossa identidade em nome da vontade do momento.  Por isso, não podemos mais deixar que a religião do descartável, fruto do pós-modernismo, dê as coordenadas e nos entorpeça de modo alienante e destruidor. Afinal celebrar, crer em Deus como Igreja e em Igreja é estar mergulhados naquilo que o que celebramos significa, e não no que queremos que ele signifique... Celebrar é serviço - entrega - amor ao próximo... ação de Graças a Deus por nos ter dado Jesus Cristo.
Celebrar é mais que sentir prazer, celebrar é viver o mistério pascal 
 memorial do Senhor, como Ele nos pediu. Estar na igreja, ser seguidor de Jesus, implica também, fazer o possível para que a nossa liturgia não se transforme num grande teatro que nos faz chorar e sorrir de acordo com o teor da piada. Celebrar é adentrar no mistério daquilo que celebramos é sermos transformados naquele que celebramos, é mais que uma música doce e melodiosa para eu chorar, é bem mais que um estacionamento confortável para meu carro, muito mais que um ar condicionado na Igreja, ou muito mais que um estilo de Igreja e de Celebrar.  A casa de oração não deveria se converter no foco da procura e busca do cristão, mas sim, num lugar de encontro com o sagrado e com a sua identidade mais profunda o Cristo.  Pe. Laércio.sj

Nenhum comentário:

Postar um comentário