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sábado, 17 de março de 2012

Final da Quaresma - a espera de um novo carnaval!


Quaresma, a espera por um novo carnaval!
Mais um feriado prolongado, graças a Deus! O povo se alegra pelo fato de o carnaval “carne vai” - que tirava a carne da mesa das famílias dando início aos jejuns e abstinências, como também às penitências e tantos costumes que marcaram de forma quase indelével a vida de tantos cristãos católicos estarem com seus dias contados. Afinal, o Tríduo Santo é um momento de recomeçar o carnaval. Viagens, muita comida, bebidas (as famílias mais católicas bebem só vinho, mesmo que não olhe a quantidade). Quem tem um poder aquisitivo melhor viaja para o sítio, para a praia, é tempo de veraneio. É tempo de comemorar em família o novo carnaval, a Semana Santa! Não importa mais, é tempo de relaxar, em nome do prazer e da “felicidade” vale tudo, até mesmo transformar a Semana Santa em carnaval. Vejamos uma boa programação para o novo carnaval:
Na quinta-feira santa, os mais avisados, vão a missa do lava-pés – Instituição da Eucaristia, isso se o dia de trabalho permitir.
Na Sexta-feira Santa: dia de dormir, descansar e depois viajar, ou mesmo nas famílias mais matriarcais é dia de levantar e fazer muita comida. Hoje, não é difícil de se ver muitos convites a bailes e shows para esta noite, uma boa pedida, o que você acha? Nada demais, de modo especial para os jovens que em casa estão acostumados a encontrar os pais em plena festa neste dia, bebendo e comendo muito... Desse modo precisam garantir a festa também a noite.
No Sábado Santo: Aleluia! É dia de beber mais, de relaxar mais ou de ressaca. A celebração da Vigília Pascal fica esquecida na penumbra da noite silenciosa que precede a ressurreição. Não é difícil de ouvir o canto do aleluia e do glória com voz tímida e nada penetrante... Como se o Senhor ainda estivesse morto... E como se o sepulcro continuasse fechado. Não há nada de novo! A não ser mais uma festa e mais lazer.
Domingo de Páscoa: muitos ainda em festa, o carnaval continua, é o último dia de descanso, vamos aproveitar o restinho do churrasco de sexta feira , a praia.
No domingo seguinte aparecem os cristãos (muitos até comprometidos) de volta, ainda com ma cara da ressaca da Semana Santa, nenhuma marca de Ressurreição, muito menos de que passou o tríduo meditando o sofrimento de Jesus por nós, pela humanidade... e que fez a experiência da ressurreição... Talvez a palavra e o texto bíblico que combine aqui seja a murmuração dos discípulos de Emaús, quando voltam decepcionados dizendo que nada aconteceu e que não foi dessa vez que aconteceu a libertação... Desse modo, timidamente se reinicia outro ano a espera de mais um feriado religioso (paganizado) para mais uma seqüência de exageros e de falta de discernimento e acolhida da vontade de Deus. 
Que bom que chegou a Quaresma novamente, assim posso reviver meu carnaval. 


Quaresma é tempo de esperança, tempo de uma abertura radical ao mistério da cruz de Cristo. É tempo de mudança na vida, nos atos, no modo de ser e de agir. Quaresma é tempo de tudo convergir para o Cristo e a ação apaixonada de Deus e tristemente alienada do ser humano que crucifica o Filho de Deus. Chegou a quaresma, meu retiro anual, momento de introspecção de olhar para dentro de mim, sentir minha verdade, saber se estou de acordo com a vontade de Deus ou não... Se estou olhando a necessidade do irmão ou não. Enfim, tempo de reconciliar minha vida com a minha verdadeira vocação: amar e servir! Ser como Jesus!  e perceber que temos um Deus que é eternamente bom e que nos ama muito, nos deu seu filho amado para nos salvar...  Somos seus. Laércio.sj

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pelas ruas das Cidades...


Pelas ruas das cidades...

Olhando a realidade que nos cerca e marca, a tensão existente entre dignidade e liberdade volta sempre à tona. Vivemos uma realidade desprovida de modelos, de valores e de horizontes, não é pessimismo é realismo. Esta visão pode ser parcial, limitada e pequena, porém não é alienada.  Olho a partir da vida das juventudes – esta categoria está aberta e não suporta segregações econômicas ou geográficas, de raça ou de cor. Ao analisarmos os mundos dos jovens perceberemos que independente de suas realidades, eles sofrem cada um em seu tempo e situação a sua alienação própria, seja na favela ou no condomínio de luxo.

A grande tensão está entre a dignidade e a liberdade. Em nome da liberdade perdemos a dignidade, como se a norma, a lei, o equilíbrio, fosse um perigo à liberdade. Os jovens têm medo de viver aprisionado a normas e “correntes antigas” de pensamento, seja da família ou de outra instituição; tem medo de perder a liberdade. A vida dos jovens nos revela essa liberdade? Não. Hoje estamos diante de uma massa alienada e indiferente a muitas iniciativas inteligentes de mudança de pensamento e realidades.

Os jovens hoje vestem as mesmas marcas de roupas, perfumes, celulares, sapatos e apetrechos... A diferença está na autenticidade ou não do produto, mas as marcas são as mesmas, os corpos são os mesmos, malhados os rapazes e magrinhas as moças como manda o figurino. A ditadura da beleza se impõe hoje sobre o jovem que já está sob a ditadura do prazer. Porém, na tensão entre estas ditaduras, há uma mudança que marca profundamente a realidade da juventude, o que importa é estar bonito, bonita, mesmo que isso não me traga tanto prazer no processo para chegar ao ponto desejado (academias, jejuns e regimes, corpos furados e perfurados, tatuados...). Sem falar que a intensidade na vida dos jovens está na busca e não no encontro – relações vazias e sem sentido e sentimento – artificiais – passageiras e precoces – não há lugar para a intensidade.  A vulgaridade dos programas televisivos e jogos que usam dos jovens para a exposição de seus produtos, transformando os próprios jovens em produtos, estão revelando cada vez mais as contradições desse sistema de relações e de valores apresentados á juventude como modelo de felicidades. Um belíssimo filme nacional “é proibido proibir” nos mostra esta tensão bem de perto, ou basta citar o que testemunhamos acontecer diante de nossos olhos e dentro de nossas realidades a partir do momento em que alguém tem a coragem de ver o BBB em suas mais variadas edições.

A busca do prazer x  as religiões sem norma. 
Ao sair nas ruas encontramos outra tensão clara a busca do prazer x religião, nossas periferias estão abarrotadas de bares, academias e igrejas. Em Salvador é possível encontrar uma igreja que é concorrente de si mesma, na mesma rua e na mesma calçada podemos encontrar a mesma igreja numa distancia de poucos metros. Sem falar das mais diversas concorrentes com placas distintas. Cada bar, academia ou igreja tem seu objetivo: o bem comum. 

Porém, de maneira bem diferente. A questão que fica quando nos aproximamos deste universo é: o que está por trás de tudo isso? Quem será capaz dar suporte quando esta bomba estourar? Nas periferias encontramos homens e mulheres abarrotados de TVs novas, sons, carros, e muita bebida alcoólica, uma forma de expressar o poder de compra da população. Porém, não se encontra em qualquer esquina a felicidade e a realização pessoal.  Há um grande número de frustração em tudo isso. O lazer transformou-se em fuga da realidade, ele não ajuda a descansar e a relaxar, pelo contrario, ele está para o vazio que cada um carrega e não tem coragem de enfrentar. 

Um mundo equivocado e controverso como o nosso não pode ser levado a sério é verdade, porém está fabricando um monte de pessoas machucadas, desiludidas e alienadas, vivendo distante de sua verdadeira realidade sem a menor condição de pensar o amanhã, sem a capacidade simples de projetar a sua vida. Mais que nunca buscam viver o dia de hoje (quem sou eu?), em detrimento do amanha e do futuro (para onde vou?), esquecendo o seu passado (de onde eu vim?).

O que me entristece é ver o quanto os jovens se alegram com pouco e até mesmo com o que está em seu horizonte simbólico, simplesmente ignoram as oportunidades que existem no Brasil de hoje como oferta de uma realidade diferenciada. Embora muitos estejam aproveitando a grande maioria está distante de construir um horizonte mais maduro e seguro.

Para muitos a saída está na religião fácil do “aceitar Jesus” buscam no ambiente religioso uma saída superada para suas vidas, porém esta atitude é tão intimista que não passa disso: um grande desejo de converter as atitudes de pecado em vida nova e participar de um grupo tendo como elemento expandir e multiplicar os fiéis, em detrimento da religião predominante, no caso o catolicismo. Importante ressaltar que mudar de religião aqui, nem sempre significa mudar de vida, pois, hoje a religião está mais conivente com o mercado, ela se adapta a necessidade do cliente a fim de satisfazê-lo a todo custo, inclusive aliviando as regras e normas, transformando o Evangelho num produto.

Quando analisamos a realidade das juventudes não deixo de fora os adultos, afinal são eles quem produzem na maioria das vezes instrumentos de manipulação dos jovens. Dessa forma, acredito que é chegada a hora de continuar crendo que há um caminho alternativo para o que vivenciamos no mundo de hoje.  Já nos dizia Câmara Cascudo que, “o melhor produto do Brasil é o brasileiro” vejo nesta frase, adaptada a este contexto que temos em nossas mãos a capacidade de criar e gerar alternativas que possam nos tirar do labirinto que vivemos atualmente. Creio que a dignidade das pessoas pede espaço enquanto sobrevive em meio ao proselitismo da falta de pudor e de perspectiva e horizontes. A sensação que temos no momento de desanimo não pode ser generalizada uma vez que há quem busque saídas para o que vivemos. É necessário pensar, refletir, produzir, criticar, opinar... Interferir. Nem tudo está perdido. Será? 
Caminhem pelas ruas das cidades ou liguem suas televisões e tirem suas conclusões... Laércio.sj


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Tenho medo de desejar Feliz Natal!


Tenho medo de desejar Feliz Natal!
A Esperança quer habitar em nós e não encontra morada. Mais um Natal – talvez a festa cristã mais pagã do mundo. O foco desta festa está cada vez mais no poder de compra, em detrimento daquele que tudo pode. Cada natal nos revela em nossa sociedade um sentimentalismo vazio de desejo de paz e mudança social, ressoa entre nós um amarelo “feliz natal!”. Temos um ano inteiro e não vemos muito esforço na construção e acolhida deste Natal. Porém, quando chega o Natal capitalista as luzes e sinos começam a nos encantar e alienar, fazendo-nos pensar que de fato há uma novidade na terra. Porém, passada a festa, ficam a ressaca e mau hálito do tão pronunciado “Feliz Natal” depois da noite da “ceia” regada a um bom vinho ou a já tão tradicional cerveja nacional tentando viver uma certa felicidades. O brilho da noite nova cheia de novidade dá lugar ao brilho artificial das luzes que acendem e apagam mostrando o quanto é incerta a luz deste mundo. A luz verdadeira não se apaga, não termina, brilha sempre pois é felicidade e esta não está a venda. Porém, os olhos estão impedidos de ver a verdadeira luz. Pois estão deslumbrados demasiadamente. O natal consumista e capitalista de hoje nos enche de estereótipos, o que dizer da figura gorducha do Papai Noel? Um ainda bom velhinho que continua sorrindo às nossas criancinhas. O verdadeiro presente, o bom velhinho não tem para dar. Porém, continua a doce ilusão do velhinho que desce pela chaminé de nossas casas, embora nossas casas não possuam chaminé... O que dizer da neve?  Pois é, ainda há adultos que acreditam no Noel – mesmo que transformado numa figura vazia e desnecessária numa sociedade já tão distante de sua verdadeira vocação.  Incentivar estereótipos como este, para mim, é continuar a não focar a vida e a existência na verdadeira base e sentido de nossa vida.  
O prometido chegou! A história se repete, não o acolhem e não o aceitam, pois estão muito ocupados em compras e promoções.  Ele será chamado Emanuel (Deus conosco)... Esquecemos de sua presença no meio de nós. As relações estão vazias e sem sentido; a sociedade busca novos parâmetros para sua sobrevivência; a fé foi instrumentalizada a ponto de preferirmos uma religiosidade fácil sem o Cristo a uma religião que nos coloque direto dentro do mistério a ser celebrado. Queremos nos relacionar com a fé e com a religião do mesmo modo que com o mercado, toma lá dá cá.  E Cristo vai cada vez mais desaparecendo da religião e da fé. Ficando como tábua de salvação à religiosidade artificial expressa (às vezes) num Feliz Natal.
Posso parecer pessimista para alguns, prefiro! Só não aceito ser chamado de Papai Noel! Confesso que às vezes, dependendo do ambiente e da realidade, tenho até medo de desejar um Feliz Natal, tenho medo de ser artificial e inconseqüente como tantos e milhares de homens e mulheres (pseudo-cristãos) ao desejar repetidas vezes esta frase sem pensar na conseqüência dela e sem pensar no que de verdade isso significa para eles. Como também, sem saber de verdade como será a aceitação desta saudação. Poderíamos ao menos nos perguntar como outrora “mas como isso se dará?”
Então o que nos resta? Como poderemos de verdade desejar um bom natal a todas as pessoas embaladas nesta festa cristã? Certamente tem peso um Feliz Natal quando sai da boca daqueles e daquelas que de verdade em suas vidas são todos os dias um verdadeiro Natal.

Acredito que temos em cada Natal a possibilidade de recriar esta festa, que não seja simplesmente a oportunidade de confraternização. Mas sim a oportunidade de uma vida nova, de mais lucidez na busca de sentido para a sua vida – fixando o olhar em Jesus. Natal é acolhida, é chegada, é de verdade atitudes novas (diárias) rumo a um novo mundo, novas opções. Quem vive em sua vida uma eterna acolhida da Palavra que se fez carne, agora se prepara para a próxima vinda de Cristo.  Um novo natal, um natal pleno, um nascimento novo para uma vida nova e eterna. Ou seja, sua vida sempre será um natal -  Maranatá (Vem, Senhor!). Não podemos ter medo e vergonha de desejar uma feliz chegada de Jesus em nosso meio, desejar ao outro que Deus habite em seu meio significa desejar de verdade um feliz e novo natal diferente e mais discreto do que já encontramos por aí. Acredito que desse modo poderemos embalar dentro de nós a pergunta, o que seria de nosso mundo "se o Natal fosse todo dia?". Laércio.sj