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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pelas ruas das Cidades...


Pelas ruas das cidades...

Olhando a realidade que nos cerca e marca, a tensão existente entre dignidade e liberdade volta sempre à tona. Vivemos uma realidade desprovida de modelos, de valores e de horizontes, não é pessimismo é realismo. Esta visão pode ser parcial, limitada e pequena, porém não é alienada.  Olho a partir da vida das juventudes – esta categoria está aberta e não suporta segregações econômicas ou geográficas, de raça ou de cor. Ao analisarmos os mundos dos jovens perceberemos que independente de suas realidades, eles sofrem cada um em seu tempo e situação a sua alienação própria, seja na favela ou no condomínio de luxo.

A grande tensão está entre a dignidade e a liberdade. Em nome da liberdade perdemos a dignidade, como se a norma, a lei, o equilíbrio, fosse um perigo à liberdade. Os jovens têm medo de viver aprisionado a normas e “correntes antigas” de pensamento, seja da família ou de outra instituição; tem medo de perder a liberdade. A vida dos jovens nos revela essa liberdade? Não. Hoje estamos diante de uma massa alienada e indiferente a muitas iniciativas inteligentes de mudança de pensamento e realidades.

Os jovens hoje vestem as mesmas marcas de roupas, perfumes, celulares, sapatos e apetrechos... A diferença está na autenticidade ou não do produto, mas as marcas são as mesmas, os corpos são os mesmos, malhados os rapazes e magrinhas as moças como manda o figurino. A ditadura da beleza se impõe hoje sobre o jovem que já está sob a ditadura do prazer. Porém, na tensão entre estas ditaduras, há uma mudança que marca profundamente a realidade da juventude, o que importa é estar bonito, bonita, mesmo que isso não me traga tanto prazer no processo para chegar ao ponto desejado (academias, jejuns e regimes, corpos furados e perfurados, tatuados...). Sem falar que a intensidade na vida dos jovens está na busca e não no encontro – relações vazias e sem sentido e sentimento – artificiais – passageiras e precoces – não há lugar para a intensidade.  A vulgaridade dos programas televisivos e jogos que usam dos jovens para a exposição de seus produtos, transformando os próprios jovens em produtos, estão revelando cada vez mais as contradições desse sistema de relações e de valores apresentados á juventude como modelo de felicidades. Um belíssimo filme nacional “é proibido proibir” nos mostra esta tensão bem de perto, ou basta citar o que testemunhamos acontecer diante de nossos olhos e dentro de nossas realidades a partir do momento em que alguém tem a coragem de ver o BBB em suas mais variadas edições.

A busca do prazer x  as religiões sem norma. 
Ao sair nas ruas encontramos outra tensão clara a busca do prazer x religião, nossas periferias estão abarrotadas de bares, academias e igrejas. Em Salvador é possível encontrar uma igreja que é concorrente de si mesma, na mesma rua e na mesma calçada podemos encontrar a mesma igreja numa distancia de poucos metros. Sem falar das mais diversas concorrentes com placas distintas. Cada bar, academia ou igreja tem seu objetivo: o bem comum. 

Porém, de maneira bem diferente. A questão que fica quando nos aproximamos deste universo é: o que está por trás de tudo isso? Quem será capaz dar suporte quando esta bomba estourar? Nas periferias encontramos homens e mulheres abarrotados de TVs novas, sons, carros, e muita bebida alcoólica, uma forma de expressar o poder de compra da população. Porém, não se encontra em qualquer esquina a felicidade e a realização pessoal.  Há um grande número de frustração em tudo isso. O lazer transformou-se em fuga da realidade, ele não ajuda a descansar e a relaxar, pelo contrario, ele está para o vazio que cada um carrega e não tem coragem de enfrentar. 

Um mundo equivocado e controverso como o nosso não pode ser levado a sério é verdade, porém está fabricando um monte de pessoas machucadas, desiludidas e alienadas, vivendo distante de sua verdadeira realidade sem a menor condição de pensar o amanhã, sem a capacidade simples de projetar a sua vida. Mais que nunca buscam viver o dia de hoje (quem sou eu?), em detrimento do amanha e do futuro (para onde vou?), esquecendo o seu passado (de onde eu vim?).

O que me entristece é ver o quanto os jovens se alegram com pouco e até mesmo com o que está em seu horizonte simbólico, simplesmente ignoram as oportunidades que existem no Brasil de hoje como oferta de uma realidade diferenciada. Embora muitos estejam aproveitando a grande maioria está distante de construir um horizonte mais maduro e seguro.

Para muitos a saída está na religião fácil do “aceitar Jesus” buscam no ambiente religioso uma saída superada para suas vidas, porém esta atitude é tão intimista que não passa disso: um grande desejo de converter as atitudes de pecado em vida nova e participar de um grupo tendo como elemento expandir e multiplicar os fiéis, em detrimento da religião predominante, no caso o catolicismo. Importante ressaltar que mudar de religião aqui, nem sempre significa mudar de vida, pois, hoje a religião está mais conivente com o mercado, ela se adapta a necessidade do cliente a fim de satisfazê-lo a todo custo, inclusive aliviando as regras e normas, transformando o Evangelho num produto.

Quando analisamos a realidade das juventudes não deixo de fora os adultos, afinal são eles quem produzem na maioria das vezes instrumentos de manipulação dos jovens. Dessa forma, acredito que é chegada a hora de continuar crendo que há um caminho alternativo para o que vivenciamos no mundo de hoje.  Já nos dizia Câmara Cascudo que, “o melhor produto do Brasil é o brasileiro” vejo nesta frase, adaptada a este contexto que temos em nossas mãos a capacidade de criar e gerar alternativas que possam nos tirar do labirinto que vivemos atualmente. Creio que a dignidade das pessoas pede espaço enquanto sobrevive em meio ao proselitismo da falta de pudor e de perspectiva e horizontes. A sensação que temos no momento de desanimo não pode ser generalizada uma vez que há quem busque saídas para o que vivemos. É necessário pensar, refletir, produzir, criticar, opinar... Interferir. Nem tudo está perdido. Será? 
Caminhem pelas ruas das cidades ou liguem suas televisões e tirem suas conclusões... Laércio.sj


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